Opinión

Escandalosa subordinaçom neológica ao castelhano (1/2)

Dedicamos esta peça e as próximas entregas a expor os (escandalosos) traços essenciais da resposta da RAG=ILG frente à estagnaçom pós-medieval do léxico galego e frente à concomitante suplência castelhanizante. Por estagnaçom entendemos o processo de degradaçom que o léxico galego sofre a partir do início dos Séculos Obscuros (séc. XVI), que se estende até ao momento atual e que consiste, sobretodo, numha substancial falta de enriquecimento, ou seja, de formaçom autónoma de novos elementos lexicais (neologia), devido a que a nossa língua, na Galiza, desde o arranque da Idade Moderna, tem vivido socioculturalmente subordinada ao castelhano e maiormente confinada nos usos orais coloquiais, e a que os processos de regeneraçom que ela tem conhecido desde o século XIX nom se tenhem revelado expeditivos o suficiente para contrariar tal deficiência. Por sua vez, suplência castelhanizante é o processo degradativo do léxico galego que consiste no maciço preenchimento, na fala espontánea, das lacunas designativas que a estagnaçom origina com as unidades lexicais da língua subordinadora, o castelhano (ex.: bolígrafo, oxígeno, vacuna, brote [de doença]). Como mostramos na monografia Léxico Galego: Degradaçom e Regeneraçom (2011), a estratégia regeneradora mais eficaz frente à estagnaçom e suplência castelhanizante padecidas polo léxico galego, ou seja, a estratégia mais idiomática, mais coerente, mais económica e mais vantajosa do ponto de vista sociolingüístico, consiste na constante coordenaçom com o léxico luso-brasileiro, através da constante expurgaçom de castelhanismos suplentes e da constante incorporaçom, com as poucas exceçons que forem indispensáveis, das soluçons neológicas surgidas nas variedades geográficas socialmente estabilizadas do galego (ex.: esferográfica, oxigénio, vacina, surto).

Infelizmente, a RAG=ILG apenas em poucos casos de estagnaçom aplica a estratégia neológica regeneradora, a coordenaçom com o luso-brasileiro, optando, na grande maioria das ocasions, pola resignada aceitaçom dos castelhanismos suplentes (já presentes na fala espontánea), como bolígrafo ou osíxeno, e, mesmo, às vezes, pola invençom das soluçons (ex.: gromo [de doença]). Seja como for, em justiça pode dizer-se que o recurso do oficialismo à neologia castelhanizante se reveste de atributos escandalosos: em primeiro lugar, pola elevada freqüência com que a RAG=ILG aplica esse expediente neológico, vincadamente nom regenerador, a qual poderá estimar-se em nom menos de 80 % dos casos, mas também polo facto de a aceitaçom de castelhanismos suplentes se produzir mesmo em casos em que as soluçons castelhanas, estridentemente, nom se revelam idiomáticas em galego. Vejamos a seguir exemplos desta triste circunstáncia.

Do ponto de vista prosódico, é um escándalo que a RAG=ILG adote, em numerosos casos, os eruditismos greco-latinos com a acentuaçom antietimológica presente em castelhano. Se o grande filólogo espanhol Valentín García Yebra com razom se queixava de que o castelhano se encontre entre as línguas europeias que pior adaptam a prosódia dos eruditismos greco-latinos, os codificadores oficialistas outra cousa nom figérom senom decalcar servilmente em galego, quase sempre, tais defeitos da língua subordinadora. Assim, um alinhamento neológico do galego com o luso-brasileiro, e nom com o castelhano, serviria para adotarmos, em muitos casos, soluçons de acentuaçom etimológica, como, p. ex., cérebro, eritrócito, sintoma ou alergia (pronunciado alerxía), sendo a oficialista soluçom alerxia, aliás, especialmente aberrante, porquanto ela se revela incoerente com energia/enerxía (mesmo formante final!).

Também no domínio morfológico, as soluçons neológicas castelhanistas da RAG=ILG atentam em bastantes casos contra a idiomaticidade do galego: assim, no DRAG surgem indevidamente, p. ex., os sufixos alheios ao galego *-illo, diminutivo, em *bocadillo (luso-br.: sand(uích)e) e em *cepillo (luso-br.: escova), e *-dor ‘lugar onde se efetua a respetiva açom’, em vocábulos como *comedor ‘dependência para as pessoas comerem’, por sala de jantar (ou refeitório ou cantina: cf. cast. mirador = gal. miradoiro, cast. obrador = gal. obradoiro), assim como a forma *vostede, híbrida e inspirada no cast. usted, que nunca poderia ter surgido a partir da original vossa mercê (v. estudo do Prof. José Luís Rodrigues), e si de um hipotético castrapo *vostra mercede (cf. luso-br. você)!

Comentarios